André
Luiz dos Santos Tavares, CRO-MG 26370 - Graduado pela UNICAMP – 1989, CD.
Endodontista, CD. Implantodontista.
Durante a evolução da Endodontia, passamos
por várias fases em termos de inovações em busca de uma técnica ideal de
tratamentos endodônticos, primeiramente direcionada à descoberta de uma
medicação “milagrosa” capaz de garantir a ausência de dor em virtude das
infecções pulpares e periapicais. Nesta sucessão de descobertas, buscou-se nas
últimas décadas o aprimoramento dos instrumentais endodônticos que
possibilitassem um melhor preparo do interior do canal e consequentemente um
nível de limpeza adequado. E por fim, deu-se início, há alguns anos, à procura
por uma técnica de obturação do sistema de canais que pudesse evitar a
reinfecção do mesmo com o passar dos anos.
Todas essas tentativas foram de fundamental
importância, pois, a partir de seus resultados colhidos na clínica diária, foi
possível concluir que uma boa abertura coronária, o uso de modernos
instrumentais e a utilização de variadas medicações intracanais são apenas
meios para se atingir o principal fim da endodontia moderna, que é garantir uma
perfeita limpeza do sistema de canais radiculares. Nesse sentido, abordaremos a
importância do uso de substâncias químicas associadas a procedimentos
mecânicos, no tratamento de infecções nos canais radiculares. A clorhexidina, por exemplo, em várias
concentrações, tem sido usada na Endodontia tanto como solução irrigadora
quando como medicação intracanal, apresentando bons resultados. Além disso,
possui algumas vantagens em relação ao hipoclorito de sódio (dakin, milton,
soda clorada, etc.), tais como: baixa toxicidade, excelente ação antimicrobiana
e substantividade, estendendo sua ação no interior do canal radicular. Apesar
disso, é pouco eficiente na dissolução de tecidos orgânicos, a principal
vantagem do hipoclorito sobre a clorhexidina.
Desse modo, apesar do hipoclorito ser o irrigante de escolha mais utilizado, a clorhexidina é uma alternativa para o
tratamento de infecções endodônticas.
Os microrganismos e seus produtos metabólicos
são considerados os responsáveis pelas patologias pulpares e periapicais. Desse
modo, a completa sanificação do sistema de canais radiculares é essencial para
o sucesso do tratamento endodôntico. Embora exista uma variedade de técnicas de
instrumentação, é frequente a presença de resíduos, bactérias, restos de tecido
pulpar e raspas de dentina (smear layer),
após o PQC (Preparo químico mecânico) - (YESILSOY et
al., 1995). Por essa razão, deve-se combinar o uso de substâncias químicas
associadas ao preparo dos canais a fim de potencializar a sanificação. O
irrigante ideal deve possuir forte efeito antibacteriano, dissolver tecidos
necróticos e não lesar os tecidos periapicais. O hipoclorito de sódio tem sido
usado como irrigante endodôntico por mais de quatro décadas. Embora tenha
excelente ação antimicrobiana e seja um excelente solvente tecidual, em altas
concentrações é tóxico aos tecidos periapicais (KURUVILLA et al., 1998). Já a clorhexidina tem se mostrado um excelente agente antimicrobiano,
sendo usado desde 1950 em diferentes concentrações como antisséptico oral, gel,
pasta de dente, chicletes, além de seu grande uso nas áreas médicas e
odontológicas. Seu grande espectro contra bactérias gram-positivas e
gram-negativas, sua capacidade em aderir ao tecido dentinário e à mucosa bucal
por prolongado tempo, assim como sua biocompatibilidade, são algumas
propriedades clínicas que justificam o seu uso (LEONARDO et al., 1999). A clorhexidina
tem sido empregada em várias especialidades odontológicas por ser um potente
agente antimicrobiano, o que levou a pesquisas também em Endodontia. Como
irrigante endodôntico, a clorhexidina
vem mostrando ótimos resultados na última década, sendo absorvida pela parede
celular dos microrganismos e causando quebra dos componentes intracelulares. Em
altas concentrações tem efeito bactericida, devido à precipitação e coagulação
do citoplasma, provavelmente causado pela união de proteínas.
Devemos lembrar que os microrganismos podem
permanecer em ramificações e irregularidades do sistema de canais radiculares,
assim como no interior dos túbulos dentinários. Portanto, a limpeza do canal
radicular depende não só da ação mecânica de limas e alargadores, mas também da
ação de soluções irrigadoras que lubrifiquem o canal radicular durante a ação
de corte dos instrumentos endodônticos, auxiliem na remoção de smear layer, e ainda possuam potencial
germicida e ação solvente sobre exsudato e pré-dentina (SPANGBERG, 1982).
Portanto, o gel de clorhexidina a 2% além de representar excelente irrigante sob os
aspectos de limpeza e bactericida, garante a lubrificação dos canais,
permitindo o preparo dos mesmos com instrumentos rotatórios em Níquel-titânio.
O efeito antimicrobiano do gluconato de clorhexidina
a 2,0% e o hipoclorito de sódio a 5,25%, como irrigantes endodônticos, foi
comparado in vitro por Jeansonne e White em 1994. O hipoclorito de sódio usado como irrigante possui
algumas desvantagens, tais como: toxicidade, odor e corrosão de instrumentos.
Ferraz et al. (2001) avaliaram a ação antimicrobiana e a propriedade
mecânica do gel de clorhexidina como
irrigante endodôntico in vitro. Foi investigada a propriedade do gel de clorhexidina em comparação com outros
irrigantes em desinfetar os canais radiculares contaminados com Enterococus faecallis (in vitro).
O resultado indicou que o gel de clorhexidina
produz uma superfície radicular limpa e possui atividade antimicrobiana
comparável a outras soluções testadas. Concluíram que o gel de clorhexidina possui alto potencial como
irrigante endodôntico.
Inúmeros sintomas dolorosos pós-operatórios
foram observados quando do uso do hipoclorito de sódio, principalmente em
pacientes jovens com canais amplos e muitas vezes com ápices não formados
completamente. Devido à redução do smear
layer (lama dentinária) garantido pelo gel de clorhexidina 2%, observou-se em cortes realizados em laboratório um
melhor nível de qualidade das obturações dos canais, pois com túbulos
dentinários desobstruídos ocorre a penetração do cimento obturador em seu
interior, garantindo uma obturação hermética.
CONCLUSÃO: Em virtude do alto potencial
bactericida e capacidade de lubrificação durante o PQM, temos o gel de clorhexidina 2% como solução de escolha
em nossa clínica diária, com uso concomitante ao soro fisiológico 0,9%, tanto
para biopulpectomia como para casos de necrose. Desta forma temos índices de
flare-up (dor pós operatória) praticamente nulo.
REFERÊNCIA E CONTATO DO AUTOR DESSE ARTIGO:
André Luiz
dos Santos Tavares –
Especialista em Endodontia e Implantodontia (Unicamp)
Email: drandretavares@gmail.com.br
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