segunda-feira, 7 de julho de 2014

SOLUÇÕES IRRIGANTES/LUBRIFICANTES EM ENDODONTIA

André Luiz dos Santos Tavares, CRO-MG 26370 - Graduado pela UNICAMP – 1989, CD. Endodontista, CD. Implantodontista.

Durante a evolução da Endodontia, passamos por várias fases em termos de inovações em busca de uma técnica ideal de tratamentos endodônticos, primeiramente direcionada à descoberta de uma medicação “milagrosa” capaz de garantir a ausência de dor em virtude das infecções pulpares e periapicais. Nesta sucessão de descobertas, buscou-se nas últimas décadas o aprimoramento dos instrumentais endodônticos que possibilitassem um melhor preparo do interior do canal e consequentemente um nível de limpeza adequado. E por fim, deu-se início, há alguns anos, à procura por uma técnica de obturação do sistema de canais que pudesse evitar a reinfecção do mesmo com o passar dos anos.
Todas essas tentativas foram de fundamental importância, pois, a partir de seus resultados colhidos na clínica diária, foi possível concluir que uma boa abertura coronária, o uso de modernos instrumentais e a utilização de variadas medicações intracanais são apenas meios para se atingir o principal fim da endodontia moderna, que é garantir uma perfeita limpeza do sistema de canais radiculares. Nesse sentido, abordaremos a importância do uso de substâncias químicas associadas a procedimentos mecânicos, no tratamento de infecções nos canais radiculares. A clorhexidina, por exemplo, em várias concentrações, tem sido usada na Endodontia tanto como solução irrigadora quando como medicação intracanal, apresentando bons resultados. Além disso, possui algumas vantagens em relação ao hipoclorito de sódio (dakin, milton, soda clorada, etc.), tais como: baixa toxicidade, excelente ação antimicrobiana e substantividade, estendendo sua ação no interior do canal radicular. Apesar disso, é pouco eficiente na dissolução de tecidos orgânicos, a principal vantagem do hipoclorito sobre a clorhexidina. Desse modo, apesar do hipoclorito ser o irrigante de escolha mais utilizado, a clorhexidina é uma alternativa para o tratamento de infecções endodônticas.
Os microrganismos e seus produtos metabólicos são considerados os responsáveis pelas patologias pulpares e periapicais. Desse modo, a completa sanificação do sistema de canais radiculares é essencial para o sucesso do tratamento endodôntico. Embora exista uma variedade de técnicas de instrumentação, é frequente a presença de resíduos, bactérias, restos de tecido pulpar e raspas de dentina (smear layer), após o PQC (Preparo químico mecânico) - (YESILSOY et al., 1995). Por essa razão, deve-se combinar o uso de substâncias químicas associadas ao preparo dos canais a fim de potencializar a sanificação. O irrigante ideal deve possuir forte efeito antibacteriano, dissolver tecidos necróticos e não lesar os tecidos periapicais. O hipoclorito de sódio tem sido usado como irrigante endodôntico por mais de quatro décadas. Embora tenha excelente ação antimicrobiana e seja um excelente solvente tecidual, em altas concentrações é tóxico aos tecidos periapicais (KURUVILLA et al., 1998). Já a clorhexidina tem se mostrado um excelente agente antimicrobiano, sendo usado desde 1950 em diferentes concentrações como antisséptico oral, gel, pasta de dente, chicletes, além de seu grande uso nas áreas médicas e odontológicas. Seu grande espectro contra bactérias gram-positivas e gram-negativas, sua capacidade em aderir ao tecido dentinário e à mucosa bucal por prolongado tempo, assim como sua biocompatibilidade, são algumas propriedades clínicas que justificam o seu uso (LEONARDO et al., 1999). A clorhexidina tem sido empregada em várias especialidades odontológicas por ser um potente agente antimicrobiano, o que levou a pesquisas também em Endodontia. Como irrigante endodôntico, a clorhexidina vem mostrando ótimos resultados na última década, sendo absorvida pela parede celular dos microrganismos e causando quebra dos componentes intracelulares. Em altas concentrações tem efeito bactericida, devido à precipitação e coagulação do citoplasma, provavelmente causado pela união de proteínas.
Devemos lembrar que os microrganismos podem permanecer em ramificações e irregularidades do sistema de canais radiculares, assim como no interior dos túbulos dentinários. Portanto, a limpeza do canal radicular depende não só da ação mecânica de limas e alargadores, mas também da ação de soluções irrigadoras que lubrifiquem o canal radicular durante a ação de corte dos instrumentos endodônticos, auxiliem na remoção de smear layer, e ainda possuam potencial germicida e ação solvente sobre exsudato e pré-dentina (SPANGBERG, 1982).
Portanto, o gel de clorhexidina a 2% além de representar excelente irrigante sob os aspectos de limpeza e bactericida, garante a lubrificação dos canais, permitindo o preparo dos mesmos com instrumentos rotatórios em Níquel-titânio. O efeito antimicrobiano do gluconato de clorhexidina a 2,0% e o hipoclorito de sódio a 5,25%, como irrigantes endodônticos, foi comparado in vitro por Jeansonne e White em 1994. O hipoclorito de sódio usado como irrigante possui algumas desvantagens, tais como: toxicidade, odor e corrosão de instrumentos.
Ferraz et al. (2001) avaliaram a ação antimicrobiana e a propriedade mecânica do gel de clorhexidina como irrigante endodôntico in vitro. Foi investigada a propriedade do gel de clorhexidina em comparação com outros irrigantes em desinfetar os canais radiculares contaminados com Enterococus faecallis (in vitro).  O resultado indicou que o gel de clorhexidina produz uma superfície radicular limpa e possui atividade antimicrobiana comparável a outras soluções testadas. Concluíram que o gel de clorhexidina possui alto potencial como irrigante endodôntico.
Inúmeros sintomas dolorosos pós-operatórios foram observados quando do uso do hipoclorito de sódio, principalmente em pacientes jovens com canais amplos e muitas vezes com ápices não formados completamente. Devido à redução do smear layer (lama dentinária) garantido pelo gel de clorhexidina 2%, observou-se em cortes realizados em laboratório um melhor nível de qualidade das obturações dos canais, pois com túbulos dentinários desobstruídos ocorre a penetração do cimento obturador em seu interior, garantindo uma obturação hermética.
CONCLUSÃO: Em virtude do alto potencial bactericida e capacidade de lubrificação durante o PQM, temos o gel de clorhexidina 2% como solução de escolha em nossa clínica diária, com uso concomitante ao soro fisiológico 0,9%, tanto para biopulpectomia como para casos de necrose. Desta forma temos índices de flare-up (dor pós operatória) praticamente nulo.


REFERÊNCIA E CONTATO DO AUTOR DESSE ARTIGO:
André Luiz dos Santos Tavares – 
Especialista em Endodontia e Implantodontia (Unicamp)
Email: drandretavares@gmail.com.br

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