Giovana Lecio Miranda- CRO SP 83617 - Graduado pela
UNICAMP – 2003, CD. Periodontista. Mestranda em Periodontia.
A polpa dental comunica-se com o periodonto
por meio de canais acessórios, laterais e também pelo ápice (Torabinejad &
Kiger, 1985). Atualmente, acredita-se que a maioria das lesões pulpares e
também periodontais são resultado de infecções bacterianas. Baseado nisto, uma
alteração pulpar pode levar a diferentes graus de comprometimento no
periodonto, bem como doenças periodontais podem originar uma alteração ou até
mesmo necrose pulpar (Al-Fouzan, 2014). Dessa forma, o termo lesão endo-perio
tem sido utilizado para classificar tais lesões inflamatórias que envolvem
simultaneamente o tecido endodôntico e o periodonto de um mesmo dente.
Este
tema vem sendo estudado na literatura desde 1963 (Seltzer, Bender, Ziontz).
Estudos sugerem que pode ocorrer degeneração pulpar (calcificação, fibrose)
devido à presença de doença periodontal, afinal existe uma relação entre a
polpa e o periodonto tanto anatômica como embrionária e funcional (Mandel ,
Machtou , Torabinejad, 1993; Ten Cate , 1994). Assim, um periodonto contaminado
pode levar a alterações e até necrose pulpar através dos canais acessórios e
laterais e não só pelo ápice. Da mesma maneira, um canal radicular
infectado, pode causar uma reação inflamatória crônica nos tecidos
periodontais, levando a uma área com maior profundidade à sondagem (Aksel &
Serper, 2014).
Tais lesões tem recebido diversas
classificações (Torabinejad & Trope, 1996; World work-shop para
classificação das doenças periodontais, 1999). De forma sucinta, podemos
classificar as lesões endo-perio da seguinte maneira (Singh, 2011):
Lesões
endodônticas: presença de um processo inflamatório no periodonto devido a
agentes nocivos existentes no sistema de canal radicular de um dente;
Lesões
periodontais: presença de um processo inflamatório na polpa devido ao acúmulo
de biofilme dental (placa bacteriana) na superfície externa radicular;
Lesão
combinada (endo-perio) verdadeira: Desenvolvimento de uma lesão endodôntica e
uma lesão periodontal em um mesmo elemento dental. O dente apresenta uma
alteração pulpar e defeito periodontal simultaneamente.
Lesões
iatrogênicas: lesões produzidas como resultado de tratamentos mal sucedidos
(perfuração radicular, infiltração coronária, trauma dental).
Para tratar tais lesões com sucesso, é de
extrema importância o diagnóstico correto. Para isso, devemos fazer uma boa
anamnese e exame clínico de boca toda, associados a testes tanto endodônticos
quanto periodontais no dente acometido pela lesão endo-perio. Além disso, o
exame radiográfico é relevante para sucesso da terapia.
Se a lesão for de origem endodôntica, ao se
tratar o canal, haverá remissão da lesão e desaparecerá o envolvimento
periodontal (isso ocorre geralmente quando, ao sondar, percebemos grande
profundidade a sondagem em um único sítio de um dente. Os demais elementos, não
apresentam perda de inserção. Chamam-na de lesão endodôntica primária com danos
no ligamento periodontal). Em alguns casos, se a extensão do dano no periodonto
(causado pelos agentes nocivos presentes no canal infectado) for grande, levando
a depósito de biofilme na bolsa periodontal, será necessário associar os dois
tratamentos, endodôntico e periodontal. Essa lesão é classificada como lesão
endodôntica primária com envolvimento periodontal secundário (Al-Fouzan, 2014).
Caso a lesão seja de origem periodontal,
deve-se desenvolver todo tratamento periodontal, ou seja, instrução de higiene
bucal, remoção do biofilme supra e subgengival. Em alguns casos, tratando-se
somente a periodontia, há regressão da lesão (lesão periodontal primária).
Entretanto, muitas vezes, o prognóstico de uma lesão periodontal é ruim se já
houver envolvimento pulpar seja pelos canais laterais ou pela extensão apical
da lesão periodontal. Quando isso ocorre, há infecção pulpar ou até mesmo
necrose deste tecido (classificam como lesão periodontal primária com
envolvimento endodôntico secundário). Nestes casos, é preciso realizar tanto o
tratamento periodontal como o endodôntico (Al-Fouzan, 2014).
Para tratar a lesão endo-perio combinada
verdadeira, deve-se tratar os dois tecidos para que se possa restabelecer a
saúde do dente, não importando, neste caso, diagnosticar quem iniciou o
processo inflamatório primeiro, visto que ambos já foram acometidos pela
infecção e necessitam de tratamento para que a mesma regrida com sucesso
(Al-Fouzan, 2014). Além do tratamento endodôntico e periodontal convencionais,
muitas vezes é preciso realizar amputação radicular, hemissecção. Para melhorar
o prognóstico de um dente acometido com tal lesão, pode-se utilizar a associação
de enxertos ósseos na região, bem como regeneração tecidual guiada (Singh,
2011).
Em relação ao tratamento das lesões que
ocorrem a partir de iatrogenias, deve-se tratar as perfurações, trepanações,
cessar o trauma oclusal, remover a infiltração coronária e tratar
endodonticamente o dente, interrompendo assim a causa da lesão e remissão da
mesma.
Podemos concluir portanto que, para sucesso
da terapia das lesões endo-perio, faz-se necessário que o cirurgião dentista
saiba diagnosticar e diferenciar qual a origem da lesão e assim
encaminhá-lo para o correto tratamento. Uma abordagem interdisciplinar onde o
periodontista e endodontista estejam em constante contato, diagnosticando-a
corretamente e desenvolvendo o tratamento de forma conjunta é de essencial
importância,afinal, para se ter a regressão da lesão endo-perio e restabelecer
a saúde do dente acometido pela mesma, faz-se necessário um tratamento
endodôntico e periodontal igualmente bem sucedido.
REFERÊNCIA E CONTATO DO AUTOR DESSE ARTIGO:
Giovana Lecio Miranda –
Especialista e Mestrando em Periodontia
Email: gilecio@uol.com.br
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