segunda-feira, 14 de julho de 2014

DESENVOLVIMENTO E TRATAMENTO DAS LESÕES ENDO-PERIO

Giovana Lecio Miranda- CRO SP 83617 - Graduado pela UNICAMP – 2003, CD. Periodontista. Mestranda em Periodontia.

A polpa dental comunica-se com o periodonto por meio de canais acessórios, laterais e também pelo ápice (Torabinejad & Kiger, 1985). Atualmente, acredita-se que a maioria das lesões pulpares e também periodontais são resultado de infecções bacterianas. Baseado nisto, uma alteração pulpar pode levar a diferentes graus de comprometimento no periodonto, bem como doenças periodontais podem originar uma alteração ou até mesmo necrose pulpar (Al-Fouzan, 2014). Dessa forma, o termo lesão endo-perio tem sido utilizado para classificar tais lesões inflamatórias que envolvem simultaneamente o tecido endodôntico e o periodonto de um mesmo dente.
Este tema vem sendo estudado na literatura desde 1963 (Seltzer, Bender, Ziontz). Estudos sugerem que pode ocorrer degeneração pulpar (calcificação, fibrose) devido à presença de doença periodontal, afinal existe uma relação entre a polpa e o periodonto tanto anatômica como embrionária e funcional (Mandel , Machtou , Torabinejad, 1993; Ten Cate , 1994). Assim, um periodonto contaminado pode levar a alterações e até necrose pulpar através dos canais acessórios e laterais e não só pelo ápice.  Da mesma maneira, um canal radicular infectado, pode causar uma reação inflamatória crônica nos tecidos periodontais, levando a uma área com maior profundidade à sondagem (Aksel & Serper, 2014).
Tais lesões tem recebido diversas classificações (Torabinejad & Trope, 1996; World work-shop para classificação das doenças periodontais, 1999). De forma sucinta, podemos classificar as lesões endo-perio da seguinte maneira (Singh, 2011):
Lesões endodônticas: presença de um processo inflamatório no periodonto devido a agentes nocivos existentes no sistema de canal radicular de um dente;
Lesões periodontais: presença de um processo inflamatório na polpa devido ao acúmulo de biofilme dental (placa bacteriana) na superfície externa radicular;
Lesão combinada (endo-perio) verdadeira: Desenvolvimento de uma lesão endodôntica e uma lesão periodontal em um mesmo elemento dental.  O dente apresenta uma alteração pulpar e defeito periodontal simultaneamente.
Lesões iatrogênicas: lesões produzidas como resultado de tratamentos mal sucedidos (perfuração radicular, infiltração coronária, trauma dental).
Para tratar tais lesões com sucesso, é de extrema importância o diagnóstico correto. Para isso, devemos fazer uma boa anamnese e exame clínico de boca toda, associados a testes tanto endodônticos quanto periodontais no dente acometido pela lesão endo-perio. Além disso, o exame radiográfico é relevante para sucesso da terapia.
Se a lesão for de origem endodôntica, ao se tratar o canal, haverá remissão da lesão e desaparecerá o envolvimento periodontal (isso ocorre geralmente quando, ao sondar, percebemos grande profundidade a sondagem em um único sítio de um dente. Os demais elementos, não apresentam perda de inserção. Chamam-na de lesão endodôntica primária com danos no ligamento periodontal). Em alguns casos, se a extensão do dano no periodonto (causado pelos agentes nocivos presentes no canal infectado) for grande, levando a depósito de biofilme na bolsa periodontal, será necessário associar os dois tratamentos, endodôntico e periodontal. Essa lesão é classificada como lesão endodôntica primária com envolvimento periodontal secundário (Al-Fouzan, 2014).
Caso a lesão seja de origem periodontal, deve-se desenvolver todo tratamento periodontal, ou seja, instrução de higiene bucal, remoção do biofilme supra e subgengival. Em alguns casos, tratando-se somente a periodontia, há regressão da lesão (lesão periodontal primária). Entretanto, muitas vezes, o prognóstico de uma lesão periodontal é ruim se já houver envolvimento pulpar seja pelos canais laterais ou pela extensão apical da lesão periodontal.  Quando isso ocorre, há infecção pulpar ou até mesmo necrose deste tecido (classificam como lesão periodontal primária com envolvimento endodôntico secundário). Nestes casos, é preciso realizar tanto o tratamento periodontal como o endodôntico (Al-Fouzan, 2014). 
Para tratar a lesão endo-perio combinada verdadeira, deve-se tratar os dois tecidos para que se possa restabelecer a saúde do dente, não importando, neste caso, diagnosticar quem iniciou o processo inflamatório primeiro, visto que ambos já foram acometidos pela infecção e necessitam de tratamento para que a mesma regrida com sucesso (Al-Fouzan, 2014). Além do tratamento endodôntico e periodontal convencionais, muitas vezes é preciso realizar amputação radicular, hemissecção. Para melhorar o prognóstico de um dente acometido com tal lesão, pode-se utilizar a associação de enxertos ósseos na região, bem como regeneração tecidual guiada (Singh, 2011).
Em relação ao tratamento das lesões que ocorrem a partir de iatrogenias, deve-se tratar as perfurações, trepanações, cessar o trauma oclusal, remover a infiltração coronária e tratar endodonticamente o dente, interrompendo assim a causa da lesão e remissão da mesma.
Podemos concluir portanto que, para sucesso da terapia das lesões endo-perio, faz-se necessário que o cirurgião dentista saiba diagnosticar e diferenciar qual a origem da lesão e assim encaminhá-lo para o correto tratamento. Uma abordagem interdisciplinar onde o periodontista e endodontista estejam em constante contato, diagnosticando-a corretamente e desenvolvendo o tratamento de forma conjunta é de essencial importância,afinal, para se ter a regressão da lesão endo-perio e restabelecer a saúde do dente acometido pela mesma, faz-se necessário um tratamento endodôntico e periodontal igualmente bem sucedido.


REFERÊNCIA E CONTATO DO AUTOR DESSE ARTIGO:
Giovana Lecio Miranda – 
Especialista e Mestrando em Periodontia
Email: gilecio@uol.com.br

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