Prof.
Dr. Jorge Liporaci
Doutor em Ciências
Médicas pela FMRP-USP na área de concentração: Ação dos Métodos e Técnicas de
Analgesia e Anestesia
Coordenador da
Especialização em Implantodontia e do Aperfeiçoamento em Cirurgia
Buco-Maxilo-Facial da APCD-RP
De uma
maneira geral, o Cirurgião-Dentista está acostumado a lidar com pacientes
ansiosos em relação ao tratamento odontológico. Cerca de 90% da população
possui graus variados de “ansiedade odontológica”, sendo que 15% destes possuem
níveis extremos de medo e pânico que os impedem de acessar o tratamento
prejudicando em muito sua saúde bucal e geral.
Esta
parcela importante da população merece uma atenção especial, pois este é um
problema inclusive de saúde pública. O medo destas pessoas é decorrente em
parte, da deficiência de conhecimento e treinamento de muitos profissionais da
nossa classe para tratar tal problema, seja por métodos cognitivos
comportamentais ou por vias medicamentosas. É obrigação do Cirurgião-Dentista
minimizar o medo e a ansiedade odontológicas utilizando de diversas vias (as
quais evidentemente exigem um treinamento específico).
Tenho
recebido em meu consultório pacientes que buscam especificamente a sedação
inalatória com óxido nitroso, como se isso fosse a solução de todos os
problemas. O que muitos pacientes (E PROFISSIONAIS!!!) não sabem é que a
sedação consciente inalatória NÃO ELIMINA A NECESSIDADE DE ANESTESIA LOCAL, e
muitos acreditam realmente que vão “apagar e não ver nada na cirurgia” com o
uso deste método. Cerca de 3% dos pacientes com ansiedade extrema não conseguem
ser sedados por nenhum tipo de método, estando indicada a anestesia geral
nestes casos.
Recentemente
2 casos chamaram muito minha atenção e me inspiraram a escrever esta reflexão
para compartilhar com os colegas de classe.
O primeiro
foi de um rapaz de 23 anos que entrou em estado de pânico (desespero, choro e
agonia) já no pré-operatório antes da anestesia local, mesmo estando sob efeito
de 15 mg de midazolam. O mesmo não permitiu sequer a tentativa de anestesia
devido a uma expectativa de que “algo ruim iria acontecer”. Após a utilização
de técnicas cognitivas e comportamentais para complementar a sedação
medicamentosa que consumiram 60 minutos (E MUITA PACIÊNCIA POR PARTE DA
EQUIPE), o procedimento foi realizado com êxito, tendo sido extraído os 4
terceiros molares em um tempo confortável para o paciente (30 minutos). Ainda
que as extrações tecnicamente fossem “simples”, nota-se a necessidade de um
nível mínimo de habilidade para executar o trabalho com uma velocidade maior
(DIFERENTE DE PRESSA), isto é fundamental para estes pacientes muito ansiosos,
de maneira a finalizar o procedimento o quanto antes para minimizar seu
desconforto.
O segundo
caso ainda não aconteceu. Ou seja, uma paciente de outra cidade contatou a
nossa clínica interessada em realizar sua cirurgia de extração de terceiros
molares sob sedação inalatória. Mas seu nível de pânico é tamanho que para
realizar a consulta de avaliação conosco a mesma está fazendo um tratamento psicológico
antes. A despeito da dor que esta paciente está sentindo, pois possui um dos
dentes com cárie e pulpite, seu medo extremo de Dentista e do procedimento
estão impedindo de se beneficiar do tratamento.
Fica a seguinte
reflexão para os colegas: É culpa do paciente este medo? Quais foram as experiências
negativas vividas por eles, ou mesmo por pessoas próximas como pais, irmãos,
amigos, etc...que fazem com que a maioria das pessoas ODEIEM O DENTISTA?
Será que
as experiências desconfortáveis que a população passa diariamente nos
consultórios não contribuem para um consenso de que o tratamento odontológico é
um mal necessário? Quantos de nós já não ouvimos de pacientes a seguinte frase:
“Odeio Dentista!” ????
O que para
nós profissionais pode ser um medo sem sentido (como uma “simples picadinha”),
para nosso paciente pode ser o fim dos tempos. Ignorar os pequenos desconfortos
das pessoas têm um efeito cumulativo na percepção geral de que realmente ir ao
Dentista não é algo agradável.
O fato é
que quando nós ganhamos a confiança do nosso paciente este medo vai se
dissolvendo com o passar do tempo e à medida que provamos para o paciente que o
tratamento pode e deve ser indolor, pois NÃO EXISTE PROCEDIMENTO DOLOROSO E
SIM, DOR MAL TRATADA.
Para
realizar a sedação (mesmo pela via oral) é preciso um treinamento específico
que inclui habilitação no atendimento de emergências médicas. Mas afirmo com total segurança para os
colegas que: a falta de sedação gera mais emergências médicas do que o ato de
sedar (uma vez que 75% das emergências médicas em odontologia são decorrentes
de stress e ansiedade, sedar significa prevenir as emergências).
É culpa nossa este medo dos
pacientes. Nós
precisamos estar sempre estudando, aprimorando, buscando o conhecimento,
desenvolvendo novas habilidades (tanto técnicas como emocionais) para lidar com
esta importante parcela da população e, dessa forma, mudarmos aos poucos este
paradigma negativo com relação ao tratamento odontológico.
Fica a
pergunta: O que você faz diariamente com seus pacientes para dar maior conforto
durante o tratamento odontológico? O que você poderia fazer melhor e ainda não
fez? Se ainda não fez, o que te impede de fazer?
Indicação
de literatura sobre sedação:
1.
Malamed
S. Sedation: A guide to patient managment. 4 ed. Editora Mosby. 2003
2.
Teixeira
M et al. Dor: Contexto multidisciplinar. 1 ed. Editora Maio. 2003.
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